Amendoim é boa alternativa para renovação e está em alta no exterior
Amendoim é boa alternativa para renovação e está em alta no exterior
Por: Dani - Viola Show | Fonte: Globo Rural - Ribeirão Preto - SP
20/04/2016
Boa demanda externa por grão de alta qualidade incentiva a safra de tiro curto em áreas de renovação de canaviais
A lua já está alta no céu estrelado, mas o trabalho no campo não pára em Jaboticabal, região da Alta Mogiana, no interior paulista. Acoplados a tratores de última geração, que são operados por um único trabalhador, os grandes equipamentos seguem em linha pela lavoura e colhem até 500 sacas de 25 quilos de amendoim por hora. Produtores como Nilton Luiz da Silva Junior, Walter Aparecido Luiz de Souza e Ernesto Citta, de famílias tradicionais no cultivo de amendoim na região, correm contra o tempo para colher a safra do grão que conquista cada vez mais ilhas de produção no mar de cana que domina o cenário do Centro-Sul do país.A corrida no campo se explica porque a chamada safra das águas é de tiro curto. O amendoim é semeado entre setembro e outubro, exclusivamente em áreas de reforma de canaviais, após o quinto corte da matéria-prima, e é colhido entre março e abril, quando alcança sua maturação. Depois, o produtor devolve a terra arrendada, onde haverá novo plantio da cana destinada à produção de etanol e açúcar.Nilton aprendeu com o pai e o avô os macetes do cultivo do amendoim, cultura implantada no país há cerca de 50 anos, mas que teve uma retração significativa nos anos 1980 e 90, devido a questões sanitárias, tecnológicas e de mercado. O renascimento ocorreu a partir do ano 2000, quando produtores, beneficiadores e a indústria confeiteira introduziram novas formas de produção visando melhorar a qualidade do produto. O aumento da demanda e daremuneração, especialmente no mercado internacional, e o status que conquistou de alimento que reduz a taxa de triglicérides ajudaram a elevar a produção.Os agricultores de Jaboticabal se apropriaram das novas técnicas de manejo, das novas variedades rasteiras desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e investiram em equipamentos modernos para arranque e colheita mecanizada. De quebra, aproveitam a vantagem de estar a poucos quilômetros da maior indústria de amendoim do país, a Coplana, cooperativa que recebe o grão, armazena, beneficia, processa e exporta com valor agregado, especialmente para o mercado europeu."O amendoim está em alta no mercado externo. As novas sementes, a mecanização da colheita e a segurança que a cooperativa nos dá fizeram toda a diferença. Posso dizer que o amendoim dá muito trabalho, sua implantação é cara (cerca de R$ 4 mil o hectare, em comparação aos R$ 5 mil do hectare de cana), mas o resultado é compensador e prevejo um futuro melhor ainda", diz Nilton. Nesta safra, ele plantou 300 hectares em terras arrendadas e mais 50 hectares em área própria. A expectativa é colher cerca de 190 sacas de 25 quilos por hectare.Walter plantou 980 hectares, 90% em terras arrendadas. Por causa da seca, ele não está muito otimista em relação à produtividade desta safra. "Não deve chegar a 200 sacas por hectare, porque tive de plantar mais tarde." No entanto, ele acredita que o investimento feito em uma nova máquina com capacidade para colher simultaneamente em quatro linhas, que se soma às outras seis máquinas de duas linhas, e o aumento de demanda pelo amendoim devem compensar o trabalho, que se estende diariamente até por volta das 21 horas. A expectativa é receber pelo menos R$ 30 pela saca de amendoim.
Reginaldo Moreira da Silva gerencia uma lavoura de 242 hectares (Foto: Silva Jr)
Já na lavoura de Ernesto, a expectativa de produção é muito boa. Reginaldo Moreira da Silva, gerente da fazenda, diz que o patrão plantou 242 hectares nesta safra, quase 10% a mais do que ano passado. "Acho que vamos alcançar 250 sacas por hectare", aposta Reginaldo.José Roberto Tossi, 35 anos de experiência com amendoim e um dos empregados da lavoura comandada por Reginaldo, afirma que a mecanizaçãofoi o grande divisor de águas para a cultura. "No passado, eram necessárias de 200 a 300 pessoas para colher uma roça dessas. Hoje, duas ou três pessoas dão conta do recado", diz ele, enquanto observa as máquinas colhedoras trabalhando de um lado e as arrancadoras de outro. Após o arranque, que deixa as vagens enfileiradas e invertidas, o amendoim fica secando no campo por dois ou três dias, antes de ser colhido e levado para a cooperativa.Safra recordeInstalada em uma área de 30 hectares, a Coplana mantém cerca de 130 cooperados que produzem amendoim. A cooperativa oferece aos associados sementes, defensivos e assistência técnica, além de facilitar a compra de peças e equipamentos e a obtenção de crédito.A previsão da Coplana para este ano é de processamento recorde de 90.000 toneladas, ou 3,6 milhões de sacas de 25 quilos de amendoim, 27% mais em relação aos 2,8 milhões de sacas da safra anterior. Em 1985, a cooperativa recebia apenas 7.500 toneladas de amendoim.A Coplana foi fundada há 52 anos por 13 produtores de cana, entre eles Antonio José Rodrigues Filho, pai do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, um dos atuais cooperados. A planta industrial de amendoim, que recebeu investimentos de R$ 40 milhões nos últimos três anos, é uma das quatro maiores da América Latina.Totalmente automatizada, a indústria está próxima do limite de sua capacidade de processar 110.000 toneladas e já prevê novos investimentos, inclusive em cogeração de energia com a casca do amendoim. No pico da safra, a cooperativa agroindustrial recebe cerca de 130 caminhões por dia. Na entrada, são colhidas amostras do amendoim para exames no laboratório que vão indicar o grau de maturação do produto e sua qualidade. Um rastreador implantado na carga dará ao comprador final informações sobre produtor, técnicas usadas na lavoura, quantidade de aplicações de defensivos, condições de trabalho na lavoura, etc.Secadores artificiais terminam o processo iniciado no campo, para prevenir a proliferação de fungos. O amendoim em casca recebido nos dois meses da safra é acondicionado em big bags de 550 quilos em um armazém com capacidade para 1,6 milhão de sacas, que conserva a temperatura e a umidade ideal do grão.A safra de amendoim é curta, mas o trabalho é intenso, pois exige monitoramento constante da lavoura, que é alvo de muitas pragas. Além da aplicação quinzenal de defensivos, o produtor precisa ficar de olho na maturação do grão, para garantir a colheita de um produto de melhor qualidade, explica Paulo Henn, um dos 19 agrônomos da Coplana que dão assistência técnica aos produtores.Segundo o superintendente Arimateia Calsaverini, especialista em agronegócios e mercado internacional, a Coplana, com certificação internacional de nível A, responde por 25% da produção e por 50% da exportação nacional de amendoim. "Quando você come aquele amendoim servido gratuitamente com a cerveja nos bares europeus, pode estar consumindo produto brasileiro", diz ele. O produto também está à venda nos supermercados da Europa, que o embalam com marca própria.Produtividade menorSão Paulo concentra cerca de 90% da produção nacional. O plantio ocorre em duas regiões: Alta Mogiana e Alta Paulista (Tupã). Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) mostram que, em 2014, a área plantada no Estado atingiu quase 100.000 hectares, mas a produção caiu de 325.000 para 270.000 toneladas, devido à falta de chuvas.Para 2015, a previsão é colher uma safra de 333.000 toneladas no Estado. Renata Martins, pesquisadora do IEA, observa que a expansão das plantas industriais no país acompanha o aumento da produção do grão e destaca a possibilidade de maior inserção do produto no mercado externo, "que se mostra demandante". Ela lembra que o Brasil, em 2001, exportou 5.000 toneladas de amendoim. Em 2010, o volume subiu para 51.000. Em 2013, foram exportadas 80.000 toneladas de grãos e 63.000 toneladas de óleo.Ignácio José de Godoy, responsável pelo programa de melhoramento genético do amendoim do IAC, diz que o Brasil é a bola da vez para vender o produto ao mundo, mas enfrenta dois gargalos: a falta de infraestrutura de armazenamento e a dependência umbilical das terras ocupadas pela cana. Todos os anos, 1,5 milhão dos 7,6 milhões de hectares de cana no Centro-Sul são renovados, abrindo espaço para outras culturas, como o amendoim e a soja. "Mesmo se dobrar a produção, o amendoim ainda ficará bem longe de ocupar metade das áreas de renovação de canaviais", diz Godoy.Para o especialista em agronegócios Arimateia Calsaverini, está aberta uma janela de oportunidades fabulosa para oamendoim brasileiro no exterior. Isso porque a China, maior produtor mundial, com cerca de 36 milhões de toneladas, está deixando de ser o maior exportador para importar o grão, devido ao aumento do consumo interno. A Índia, outro grande produtor, enfrenta barreiras fitossanitárias para exportação; e na Argentina, outro grande produtor e exportador, o amendoim trava uma disputa ainda mais desigual por terras com a soja.Melhoramento genéticoO desenvolvimento genético de variedades rasteiras que garantem maior produtividade das lavouras do grão é um dos motivos para o salto de produção de amendoim no Brasil. O IAC mantém uma parceria com cooperativas e indústrias de amendoim do país que já rendeu dez novas variedades de sementes nos últimos anos."Há dez anos, o produtor colhia 2.000 quilos (80 sacas) por hectare. Atualmente, chega a colher 6.500 quilos (260 sacas)", diz Ignácio Godoy, responsável pelo programa de melhoramento genético. A variedade mais usada no cultivo comercial é a rasteira runner, de grão maior, que ocupa 80% da área plantada, mas também há mercado para o tipo ereto de grão menor, conhecido como tatuzinho.O pesquisador revela que o trabalho no IAC se desenvolve em duas frentes: na criação de variedades rasteiras para ser colhidas em até 125 dias e nas sementes de ciclo mais longo (até 140 dias), que são mais resistentes a pragas. "Em algum momento, o produtor terá de optar por reduzir o custo de produção, especialmente o gasto com defensivos. Aí essa variedade vai ganhar mais espaço."A pesquisa também se concentra em produzir variedades resistentes ao mais recente inimigo do amendoim, um vírus que mata a planta. A equipe do IAC visitou, no início de março, uma área na região de Itápolis em que uma em cada três plantas foi atacada pelo vírus."Estamos fazendo um teste nos EUA, onde o vírus já é conhecido, para identificar variedades mais resistentes. Acho que logo estaremos preparados para combater essa nova doença", diz. Enquanto isso, Ignácio recomenda aos produtores que se previnam com boas sementes e plantio mais adensado.
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