O que é música caipira
O que é música caipira
Por: Viola Show - Ribeirão Preto - SP
11/08/2013
A música que representa
seus valores e seu cotidiano deve estar inserida em seu ambiente. Deveria,
então, ser uma música caipira que contasse sobre sua gente, sua vida e seu
trabalho.
Há uma imensa
controvérsia que gira em torno da classificação do que vem a ser música
caipira. Ela se justifica por não existir uma classificação clara desse estilo
musical. O que alguns chamam de música caipira, outros chamam de música sertaneja
e outros, ainda, de música sertaneja romântica.
Não há uma definição e
sim várias observações: Anderson Borba Ciola e Fabio CecÃlio Alba em “Os rumos
da música caipira no Vale do ParaÃba†escrevem:
 “Originária do meio
rural, a música caipira tinha, inicialmente, uma temática de letra restrita ao
homem do campoâ€. Ela é geralmente cantada a duas vozes e acompanhada por violas
e violões e por isso também é conhecida como ‘moda de viola’.
Durante a época colonial,
as letras falavam de lendas indÃgenas e canções religiosas portuguesas, mas com
o passar do tempo, começou a retratar também histórias de desbravadores.
Na década de 20, a ‘moda
de viola’ chegou às rádios, graças à insistência do jornalista Cornélio Pires,
que financiou gravações de duplas sertanejas. Antes da era do rádio, as músicas
caipiras eram cantadas por várias vozes nas ruas, mas como era muito difÃcil
levar um grande número de pessoas ao estúdio de gravação, a música caipira
passou a ser cantada apenas por duas vozes, o que posteriormente se tornaria
sua principal caracterÃsticaâ€.
Essas definições
apresentadas demonstram a dificuldade de classificação desse estilo musical. Os
autores dizem que Cornélio Pires financiou gravações de duplas sertanejas. Na
frase seguinte utilizam o termo música caipira. Essa indefinição demonstra a
dificuldade de interpretação desse estilo. Os músicos também têm suas
definições e muitas delas se contrastam.
Paulo Freire, violeiro,
diz que: “duplas como Leandro e Leonardo não têm nada a ver com a música
sertaneja mais tradicional. É um universo completamente diferente. Só tem uma
postura rural que nem rural éâ€. Roberto Corrêa, violeiro, concorda dizendo que
“o tÃtulo é mal-empregado. A música dessas duplas é romântica e já está bem
urbanizadaâ€. De acordo com o também violeiro Almir Sater: “Tudo é questão de
mercado. A música romântica sempre esteve em 1º lugar nas paradas de sucesso em
qualquer lugar do mundo. Não importa a forma. Às vezes é um samba romântico
cantado para o povão, cantado para as massas, ás vezes é uma música de origem
do campo que é modificada por um jeito mais consumista, mais românticoâ€.
Já para Inezita Barroso:
 “Sertanejo é um tema essencialmente nordestino
que a gente aprendeu com a vinda do Luiz Gonzaga para o Sulâ€. Então, está certo
que ele chame de sertanejo a música rural nordestina, porque é um sertão. Aqui
(em São Paulo) não se fala ‘vou para o sertão de São José, vou para o sertão de
Taubaté. Então você fala ‘vou para o interior, eu vou para a roça, eu vou para
a fazenda, no máximo. Então, não se aplica.
“Mas, isso aconteceu
porque o caipira virou um termo pejorativoâ€. Dos músicos, Renato Teixeira é um
dos que acredita que a música caipira não perdeu sua identidade: “Acho que nada
é mais caipira, no sentido bom da palavra, do que o Chitãozinho & Xororó e
o Leandro & Leonardo, enfim esse pessoal todo. São caipiras modernos, bem-sucedidos
e muito humildes. Eles representam o sonho do brasileiro do campoâ€. Essas
opiniões são muito importantes, pois demonstram a visão de quem está dentro do
mercado e tem contato com esse estilo musical.
Paulo Freire e Roberto
Corrêa são categóricos em afirmar que a música praticada por duplas como
Leandro & Leonardo são músicas urbanizadas, com nenhuma ligação com a
música original. É interessante, pois eles dizem que essas duplas fazem música
romântica e têm uma postura rural que nem rural é e isso nos remete a opinião
de Almir Sater que diz que essa música sertaneja atual é uma música de origem
do campo modificada para atender aos padrões do consumo.
Quando ele diz que é tudo
questão de mercado, demonstra que a música sertaneja de hoje não tem nada a ver
com a antiga por razões de consumo, já que hoje a música sertaneja é consumida
por pessoas que moram no interior e por pessoas que moram na cidade. É
consumida por toda a massa, conforme veremos no capÃtulo adiante que explicará
indústria cultural e mercado. A opinião de Inezita Barroso é uma das mais
corretas quando separa sertanejo de caipira por regiões e quando diz que a
adoção da denominação de sertanejo surgiu, pois caipira virou um termo
pejorativo, conforme explicamos no capÃtulo anterior. A opinião de Renato
Teixeira nos mostra que nem todos atribuem à música sertaneja atual a falta de
identidade com a antiga e sim evolução. Ele acredita que esses são os
verdadeiros caipiras atuais.
 Todas essas definições demonstram vários
aspectos da música caipira. Os músicos desgostam essa nova música sertaneja por
ela usar elementos da música original e no fim apresentar um resultado que não
condiz com a realidade do homem do campo. É um ponto de vista que concordamos,
pois a imagem que é passada através de uma canção sertaneja não condiz com o
original, muitas vezes se distanciando até na parte musical. Isso é reflexo da
urbanização desse estilo e de sua inserção na indústria cultural. Waldenyr
Caldas estudou essa ligação em seu livro “Acorde na Aurora: música sertaneja e
indústria cultural†e no livro “O que é música sertanejaâ€.
As definições acerca de
indústria cultural serão verificadas nos capÃtulos à frente. O que nos
interessa agora são suas verificações e diferenciações de música caipira e
música sertaneja. Caldas entende que música caipira é aquela canção anônima e
tem a ver com folclore, enquanto por música sertaneja, ele classifica aquela
que já é produzida no meio urbano-industrial. Desenvolve uma série de
caracterÃsticas para ambas as definições.Â
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