Cultura

O Peão de Rodeio

O Peão de Rodeio

Por: Viola Show - Ribeirão Preto - SP

12/05/2014

A história dos peões veio mudando com o tempo. A primeira geração saiu das fazendas. Eram homens com excelente preparo físico, resultado da lida diária com os animais, das viagens com as comitivas e da doma de cavalos xucros. Atraídos pelos prêmios estimulados por seus patrões e companheiros, os melhores participavam dos rodeios.Na primeira Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos o primeiro prêmio foi um arreio completo.Homens simples e rudes, os primeiros peões iam para os rodeios com a roupa da lida diária, usando a camisa de manga comprida que os protegia do sol e dos mosquitos. Trocavam por alguns momentos o estradão boiadeiro, os pontos de pouso e os currais pela arena e pelo brete - área de cercados, logo atrás da largada das montarias, onde ficam confinados os animais. E, na apresentação, mostravam sua destreza na montaria.Até hoje a maioria dos peões vem do campo, mas já não faz mais o trabalho pesado com o animal que lhes dava preparo necessário. Com a proliferação das festas, por todo o país, o ritmo de apresentações é cada vez mais intenso. O peão de rodeio tornou-se um atleta profissional. Faz seu condicionamento físico nas academias de ginástica, com fisioterapeutas especializados e sua alimentação é balanceada, como a de outros atletas. Tem motivos para isso: os 8 segundos no lombo de um touro bravo exigem o mesmo preparo físico de um jogador de futebol para seus 45 minutos no campo. Também têm recompensas pela dedicação: os prêmios são carros, motos e patrocínios que permitem ao peão de rodeio viver do esporte. A profissionalização faz com que as pessoas comecem a encarar a atividade de forma diferente. Há peões iniciando carreira aos três anos de idade, montando em carneiro. Há universitários  peões, e peões especializados em cavalo e touro.mas vejo que continua um universo fortemente masculino.A figura de mulher aparecia na Festa do Peão, antigamente, apenas no concurso de beleza e no desfile típico. Hoje temos vez na abertura, com a prova dos Três Tambores e até ganhamos chance de formar alguns grupos de catira, e só. a presença feminina ainda é acanhada, mas estamos conquistando espaços, além de corações.Se a emoção do controle da boiada foi sendo substituída pelo olhar atento e a adrenalina da platéia, a habilidade de vaqueiro foi preservada e colocada em regras como correr dos anos, assim como a saúde dos animais. Não são permitidas esporas rombudas, o sedem ( corda que, amarrada na virilha do animal provoca cócegas e pulos ) é confeccionado com crina de animal ou lã para não machucar os animais. Estes passam por exame periódicos de contagem de esperma como indicador de saúde.A vestimenta do peão também recebeu cuidado especial. Foi mantida a camisa de manga comprida, com o detalhe do punho abotoado da mãe de equilíbrio ( aquela que fica sempre no ar ). Geralmente as camisas trazem o nome do patrocinador. Há quem use equipamentos de proteção, como capacete e colete. A calça é de couro, botas e chapéu são obrigatórios - figurino copiado pela rapaziada que frequenta as festas, apostando no sucesso que faz a figura máscula do peão junto as mulheres. Sem perceber, eles fazem um desfile de moda country: têm os peões antigos de bombachas, camisas listradas largas, botas, chapéu e lenço no pescoço; os que usam jeans e camisas de xadrez miúdo com botinas, além dos que usam os acessórios texanos.Apesar de todo glamour conquistado, acho interessante perceber que até hoje o rodeio é um esporte onde as estrelas são exceções. Os peões continuam sendo os heróis anônimos do sertão, como eram chamados antigamente. Talvez isso aconteça porque a nota fiscal de uma montaria leva muito em consideração o desempenho do animal, e este é sorteado na hora de entrar na arena.Na queda, quem protege o peão de chifradas, coices e pisoteios são os palhaços salva-vidas. Engraçados, sua fantasia colorida é uma mistura das roupas de vaqueiro com palhaços de circo. Toureando com arte os animais, eles dão tempo para o vaqueiro se recompor da queda e sair da cena.Os peões de hoje já não têm o mesmo tempo dos peões de comitiva, para olhar as estrelas no estradão, sentindo-se protegidos por forças divinas. Por isso colam dentro do chapéu a imagem de Nossa Senhora da Aparecida. Ainda precisam de sua proteção, e não se acanham em pedi-la. Continuam sendo humildes.

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