Esportes

“O boi de competição nasceu para pular”, diz veterinário da PBR Brasil

Veterinário responsável pelas competições da PBR Brasil explica tratamento dado aos touros.

Por: Daniela Esteves || Fonte: Assessoria de Imprensa - Ribeirão Preto - SP

07/06/2013

Em todas as competições do Brahma Super Bull PBR, Campeonato Brasileiro de Montaria em Touros, o médico veterinário Marcos Sampaio de Almeida Prado, conhecido como Dr. Kiko, está presente para zelar pelos touros.Todos os animais são inspecionados e acompanhados de perto pelo profissional de 60 anos, sendo metade destes dedicados aos tratamentos destes valiosos exemplares. Para os que não conhecem, ele faz questão de detalhar os preparos e cuidados determinantes para se desenvolver um verdadeiro animal de elite para esta competição.A inspeção começa logo quando os animais descem do caminhão que os transporta até o evento. São inspecionados ainda, individualmente, os equipamentos dos competidores, para que estes não lesionem o animal durante o preparo e o desenvolvimento da montaria.O Doutor explica, ainda, que estes animais já nascem com propensão ao pulo e que recebem tratamento de atleta para melhorar sua condição física. Apaixonado pela modalidade e pelos animais, faz questão de deixar um recado para quem não conhece este esporte e convida para acompanhar as disputas do Brahma Super Bull PBR.Confira:Dr. Kiko, como é feita a avaliação do animal antes de cada competição?
Dr. Kiko – Quando os animais descem do caminhão, são fiscalizados por todos os juízes e por mim. Nessa hora, se a gente perceber que existe algum problema, machucado ou esfolado, tiramos o touro para que não participe das montarias.O que é verificado neste processo?
Dr. Kiko – Precisamos ver se o animal está com o chifre na medida certa, se ele está bem ou se está mancando. Se isso acontecer, colocamos o touro de lado. Às vezes, um boi briga com outro e eles acabam machucados. Nesse caso, a gente separa e ele não vai para a montaria.Qual é o procedimento momentos antes de o touro entrar na arena?
Dr. Kiko – Quando ele está quase no brete são colocados os equipamentos. Um pouco antes, tem um corredor e ali é colocado o sedém, artefato feito de algodão. Além disso, também é colocada neste momento a corda do competidor, que tem direito de experimentá-la antes da montaria. Cada animal tem um tamanho e o peão precisa regular sua corda. Para isso, ele puxa, regula o nó e deixa tudo preparado antes de entrar na arena.Os equipamentos como esporas e sedém também são avaliados por alguém antes de o touro entrar na arena?
Dr. Kiko - Faço essa checagem para todos. Preciso ver se a corda está normal, se a espora do peão está de acordo, se o sedém está correto, entre outras coisas. Faço essa checagem para que nada machuque o animal. Caso haja alguma irregularidade com os equipamentos, proibimos sua utilização.Fora das competições, qual o suporte oferecido ao animal em sua rotina nas fazendas?
Dr. Kiko – Alimentação e um volumoso (suplemento de pastagem). Basicamente, é isso o que a gente costuma oferecer ao touro nas fazendas. É o essencial para que ele esteja bem. Se ele está comendo bem, se está com saúde, com o pelo liso e fino, tudo isso são indicadores de que ele está bem para dar o espetáculo. Essa é a ideia, que ele realize o espetáculo. Para isso, o touro precisa estar no estado hígido, ou seja, saudável, com o corpo atlético. É como se ele fosse um atleta, que não pode estar gordo, mas sim forte.Quais treinamentos são aplicados a um touro de competição para que ele atinja a condição atlética?
Dr. Kiko - Isso depende de cada animal. Têm alguns touros que andam, outros que nadam, dependendo do tropeiro. Esse trabalho na água, dentro de uma piscina, é feito por alguns animais. Existe também um trabalho na esteira, do mesmo jeito que a gente faz. Na verdade, a índole de pular é do próprio boi, isso já está nele. A gente só tem que dar as condições físicas para ele poder fazer isso.Que fatores podem fazer um animal não estar apto a competir?
Dr. Kiko - Eu vou te contar um fato que aconteceu em Curitiba, há três semanas. Os animais ficaram em uma fazenda e foi dada uma ração com a qual eles não estavam acostumados. Além disso, esfriou demais, e isso pode atrapalhar. O resultado foi que os bois sentiram certo desarranjo. Quando isso acontece, tem que ser feito um tratamento especial e, nessas situações, o touro não vai pular até que fique melhor. Nós temos que ter esses cuidados com o animal.Quais são os equipamentos utilizados durante a montaria?
Dr. Kiko - O peão pode usar a corda dele, desde que esteja na medida correta e com o polaco (espécie de sino). Além disso, o sedenheiro vai usar o sedém dele, também dentro do padrão. A corda, por exemplo, tem especificações, um tipo de celinha que serve para evitar que o boi sofra algum dano. Tudo é verificado, e o peão tem que ter todos esses equipamentos, sob pena de ser eliminado. Da mesma maneira, ele precisa ter o colete, usar a calça e o polaco.O que faz com que o animal pule nas competições?
Dr. Kiko - Está na índole do boi fazer isso. O boi de competição nasceu para pular. Para você ter uma ideia, de cada cem animais apenas dois ou três têm essa propensão para se tornar um touro de rodeio. Então, eles fazem isso por instinto, porque ele quer fazer. Tanto isso é verdade que, na hora que o peão sai de cima, ele para.Como é que você enxerga o fato de as pessoas ainda terem a ideia de que os animais são maltratados nas competições? É verdade que o saco escrotal dos touros é amarrado para que ele pule?
Dr. Kiko - Isso é absurdo, não permitimos isso de jeito nenhum. As pessoas têm uma ideia errada sobre os rodeios. É importante que tenham acesso às informações verdadeiras. Um boi hoje é um patrimônio, um bem. Tem animal que vale cerca de R$ 200 mil, R$300 mil. Qual é o interesse de um tropeiro ver seu touro machucado? Eu respondo que é nenhum. É a mesma coisa a gente comprar uma BMW e deixar um manobrista passar um prego nela. Isso é um patrimônio dele. É dinheiro. Com certeza ninguém quer isso.Existe uma maneira de identificar quando um animal tem propensão para ser um competidor?
Dr. Kiko - Os bois são treinados. Existe um bonequinho chamado Tomy que vai em cima dos bezerros. Normalmente, quando os animais estão com dois anos de idade, a gente começa a experimentar. Nós simulamos os oito segundos com esse aparelho instalado. Quando o tempo é atingido, nós o soltamos. Fazemos isso para simular uma situação de competição.Existe algum fator que pode ser determinante para que o animal seja apto para competição?
Dr. Kiko - A gente pode considerar a genética como determinante. Nos EUA, hoje, quase todos os touros são criados com procedimentos genéticos. E a genética manda em tudo. É um trabalho de criação feito em cima disso. Nós vamos chegar a um determinado momento em que só teremos bois de genética, mas hoje ainda não é assim.Qual a diferença física entre um touro apto a pular e um animal que não participa de competições?
Dr. Kiko - A grande diferença física é que o touro de competição desenvolve músculos, e o boi que não pula tem mais gordura. Porém, é importante falar que isso é feito por nós. Um precisa ser engordado e o outro precisa ficar com os músculos mais fortes.Quanto um touro de rodeio pula por ano?
Dr. Kiko - Se o animal trabalhar, de quinta a domingo, durante dez meses, dá um total de 26 minutos por ano. Esse é o tempo que ele estaria pulando se trabalhasse durante todo esse período. Porém, isso não acontece. Normalmente, o que nós temos visto é que um boi trabalha cerca de quatro ou cinco minutos no ano todo. Isso acontece porque na realidade o touro que pula na quinta-feira, por exemplo, não participa na sexta-feira. Sem considerar o fato de que ele não vai para torneios todas as semanas. Também temos que ressaltar que, na maioria dos casos, os saltos não duram os oito segundos. Eles acabam derrubando o peão antes disso. No caso do touro Ciclone, ele tinha pulado 38 vezes nesse ano e todos os saltos não duraram mais do que três segundos. Se fizermos as contas, no total, ele não trabalhou mais do que dois minutos durante todo esse ano. No evento de Londrina, foi a primeira vez que um peão aguentou os oito segundos em cima dele. É importante fazer e mostrar essas contas para a gente conseguir passar para as pessoas que não acontecem maus tratos aos animais.Por que o tempo de duração da prova tem que ser 8 segundos?
Dr. Kiko - Esse é o tempo em que o touro atinge a tensão máxima no salto. Depois disso, ele começa a ter um desempenho pior. É por isso que o peão sai quando atinge essa contagem. Se o competidor demorar para descer do animal, ele pode ser multado.Para finalizar, qual é o seu recado para as pessoas que ainda têm aquela ideia de que os animais são maltratados?
Dr. Kiko - Eu digo que é importante que elas procurem se interar das verdades e que esqueçam as mentiras que ouviram antes. Quem se informa e conhece o que de fato acontece nunca mais fala que há maus tratos ou coisa do gênero.

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