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Competidor de montaria em touro é destaque no diarioweb

Competidor de montaria em touro é destaque no diarioweb

Por: Fonte : Rodeio Magazine - Ribeirão Preto - SP

29/11/2013

Confira na integra a matéria feita por Daniela Penha.

O peão Éder Júnior dos Santos foi campeão de Barretos sem nunca ouvir a contagem dos oito segundos, que termina com o grito extasiante da plateia. Até hoje ele percebia o tempo cronometrado pelos movimentos dos salva-vidas e fazia a montaria conforme as manobras do touro. Essa realidade nunca foi o principal incômodo. Lidou tão bem com ela que se tornou campeão. O que incomoda mesmo é nunca ter ouvido o filho Felipe, de 4 anos, dizer “papai”. É isso que Éder quer ouvir, repetidas vezes, a partir de agora. Ontem, ele passou por um implante coclear que, dentro de um mês, vai trazer o som de volta aos seus ouvidos.

De calça jeans justa e camisa xadrez, o peão rio-pretense se preparava para a cirurgia no Hospital Beneficência Portuguesa, em Rio Preto. Ao seu lado, Adriana Borges Boselli, que, além de esposa, tem sido os ouvidos e a fala de Éder nos últimos oito anos. É ela quem transmite em palavras o que o marido sente. “Nossa vida vai mudar em tudo. Ele tem lembranças de uma música que ouvia na infância, até canta, mas ainda não sabemos qual música é. Agora, vamos saber”, diz, enquanto o companheiro concorda, movimentando os olhos.

Quando coloca a narração da prova que tornou o marido campeão, ela se emociona. “Isso é Barretos gritando para ele. Ele não imagina o que é isso. Eu penso que vai ser muito bom quando souber.” Em Barretos, Éder ganhou do touro Baleado. Até então, os 16 peões que tinham subido no bicho caíram antes de soar a sirene dos oito segundos. Éder não ouviu a sirene, mas ficou no touro o tempo que precisava para conquistar o título.

O peão não nasceu surdo. Ficou assim aos seis anos, após complicações em um quadro de caxumba. Com o problema, perdeu também a fala. A vontade de ser peão continuou. Aos 15 anos, começou a participar de competições de montaria, contrariando a vontade da família, que discordava da profissão escolhida por ele.

Las Vegas

Hoje, aos 32, é um dos nomes mais conhecidos nas arenas paulistas. E tem planos de competir em Las Vegas, por um torneio internacional. Seria a coroação de um trabalho que até aqui rendeu muitas premiações, mas também cicatrizes. Ele já se feriu por pisões de touro, já lesionou o intestino, o ombro e o maxilar. “Ele chegou em casa uma vez com o maxilar todo enfaixado. Um perigo!”, relembra Adriana.

Foi do brete que ela, também rio-pretense, se apaixonou pelo marido. As famílias dos dois são vizinhas e ela soube da história de Éder por conversas de muro. Decidiu ir até o rodeio para comprovar. “Eu não acreditava que ele era surdo e montava”. Encantou-se pelo que viu e passou a acompanhar o peão. “Ele diz que eu sou o ouvido ele. Eu só deixei de acompanhar os rodeios na gravidez e quando é muito longe.”

Adriana tem medo do touro. “Quando eu vejo aquele tamanho de bicho, eu falo: ‘vamo embora, gente’. Mas ele prefere. Gosta mesmo é de touro grande.” Desde 2009, quando foram informados pelo médico Luciano Maniglia, responsável pelo departamento de otologia da Famerp, de que era possível voltar a escutar, Éder e Adriana perseguem o objetivo. Até 2012, no entanto, a cirurgia, que custa cerca de R$ 150 mil, não era custeada pelos convênios médicos. “A gente não tinha condições de pagar. Mas agora conseguimos pelo convênio”, comemora ela.

Transmissão

O implante coclear consiste no implante de um aparelho no interior do ouvido que, através de eletrodos, consegue transmitir os sons do ambiente externo. Um aparelho externo controla o interno. A cirurgia de Éder começou por volta das 16h e terminou às 21h20. Tudo transcorreu bem, segundo Adriana.

O médico Luciano explica que daqui há um mês é que o peão começará a escutar. Até lá, o dispositivo ficará desligado. “É a fase de cicatrização do aparelho dentro do organismo.” Alan Queiroz, diretor comercial da Audibel Aparelhos, explica que no final da cirurgia o aparelho é testado. “Nós verificamos se todos os eletrodos estão posicionados, mas deixamos o aparelho desligado”.

Elétrico

Com as mãos, Éder traduziu a ansiedade que estava sentindo antes da cirurgia. “Ele nem dormiu. Já tomou dois banhos hoje. Está muito elétrico. Mais ansioso do que para montar”, diz Adriana, que por sua vez demonstra a ansiedade pelo choro que vai e volta dos olhos. Ela espera que agora Éder deixe a arena. “É muito perigoso.” Mas não tem muitas esperanças. “Ele já disse que continua montando enquanto tiver forças no braço”. Éder concorda com a cabeça. O peão vai sair do silêncio, mas sem tirar as botas.

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