Barretos: Bois adestrados dão a tropeiro a chance de cursar faculdade de direito

Turistas pagam para tirar fotos com bois nos rodeios da região de Barretos.
Valor arrecadado é destinado ao pagamento do curso e sustento da família.

Participar da 59ª Festa do Peão de Barretos (SP) também é sinônimo de oportunidade. É o caso do tropeiro Eurípedes Roberto Mantele, o Betinho, de 32 anos, que durante os onze dias de evento leva dois bois adestrados para o Parque do Peão. Os animais são modelos para fotos com curiosos que nunca chegaram perto de um animal desse porte. Com o dinheiro arrecadado com o trabalho, Betinho paga a faculdade e vai concretizando o sonho de se tornar advogado. "Vou ser o primeiro formado da família."O tropeiro de Viradouro (SP) - cidade a 60 quilômetros de Barretos - cursa o quarto ano de direito em uma faculdade particular e batalha para conseguir concluir os estudos. A ideia de usar os bois como fonte de renda surgiu há três anos, quando se deparou com a primeira mensalidade do curso e nenhum dinheiro no bolso. "Peguei o boi, fui a uma festa de peão em Morro Agudo (SP) e consegui o valor, que na época era de R$ 585. Na verdade, tirei até mais que isto", conta.Cada visitante que sobe em um dos bois de Betinho para tirar uma foto paga R$ 20, valor que é revertido primeiro para a mensalidade da faculdade. O que sobra, é destinado à família e gastos extras. "Tem sempre livros para comprar, cópias de materiais e são coisas que precisamos fazer. Aos trancos e barrancos, eu vou pagando o curso e realizando meu sonho", diz o tropeiro.Herança
Betinho herdou os bois do pai, Adolfo Mantele, de 59 anos, que também o ajuda nesse trabalho. Durante a semana, quando o tropeiro tem aula na faculdade, é Mantele quem leva os animais aos rodeios. "Não é fácil. Já passamos muitas dificuldades. Algumas vezes ficamos 15 dias comendo arroz e salsicha. A sorte é que temos os bois e podemos fazer esse trabalho em Barretos e nas cidades vizinhas."Mantele afirma ainda que a família sente muito orgulho do empenho do filho. Por isso, não mede esforços para substituí-lo nos eventos, quando precisa apresentar trabalhos na faculdade ou está em semana de provas. "Sou da classe pobre e ter um filho formado me deixa muito orgulhoso. É uma luta muito grande, mas estamos satisfeitos", exaltou o pai.O patriarca não se cansa e já está preparado para cobrir o filho na maioria dos rodeios previstos para o próximo ano, já que Betinho precisará de dedicação integral aos estudos. Em 2015, quando concluirá a faculdade, o tropeiro também prestará o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Vou passar na primeira prova", garante.
Visitante do Parque do Peão monta boi adestrado na Festa de Barretos (Foto: Érico Andrade/G1)