Música

Dudu Borges: Produtor requisitado. Confira a entrevista:

Dudu Borges: Produtor requisitado. Confira a entrevista:

Por: Viola Show | Fonte: Portal Sucesso - Ribeirão Preto - SP

12/02/2014

Dudu Borges é hoje um dos principais produtores musicais do país. Sua fama, porém, não foi construída da noite para o dia. Dudu está envolvido com música desde a infância, quando participou de bandas gospel – como multi-instrumentista e, mais tarde, na área de produção. Mas sua ascensão dentro do mercado secular, com certeza, pode ser rotulada como meteórica. Em menos de cinco anos, Dudu deixou de ser mais um para ser o número um. Tudo começou com a produção do disco “Curtição”, de João Bosco & Vinicius, lançado em 2009. Considerado por muitos como o marco zero do sertanejo universitário, o álbum foi um dos primeiros a inserir elementos pop na música rural. De lá pra cá, quase todos os representantes do segmento seguiram caminho semelhante ou procuraram o produtor para trabalhar em parceria.Michel Teló, Jorge & Mateus, Bruno & Marrone, Luan Santana e Fernando & Sorocaba já foram produzidos por Dudu. Outros grandes nomes também procuraram o profissional, mas não encontraram espaço na agenda do proprietário do Estúdio VIP, situado na região central de São Paulo. “Sou centralizador, participo de todas as fases da produção. Por isso não sobra tempo para trabalhar com todo mundo que me procura. Não é nada pessoal, é falta de tempo mesmo”, explica Dudu, que hoje produz cerca de 15 discos por ano. O número é alto para os padrões brasileiros, mas poderia ser ainda maior se o produtor terceirizasse arranjos e mixagem. “Não é o meu perfil. Gosto de pensar o conceito de forma completa”, garante.A fama de estar envolvido em produções exitosas tem atraído artistas de outros gêneros para trabalhar com ele. Fabio Jr, que não lança disco inédito desde 2004, vai colocar fim a esse hiato com um disco gravado ao lado de Dudu. Jorge Ben Jor, por sua vez, é o primeiro músico de MPB a fazer um disco com o produtor. Assim, Dudu quebra estigmas e demonstra que não é um profissional focado basicamente no sertanejo. Na entrevista a seguir, ele comenta o bom momento, avalia o mercado sertanejo e revela novidades sobre sua atuação na área de produção musical.SUCESSO! – Como é sua forma de trabalhar? DUDU BORGES – Divido a produção dos discos em etapas. A etapa inicial junta guia, arranjos e composições. Depois, gravo os instrumentos e a voz. E a terceira fase é a da mixagem. Consigo fazer em média três discos simultaneamente. Isso dá mais ou menos 15 álbuns por ano. Não faço mais músicas avulsas. Discos têm um conceito fechado, o que é muito mais interessante. Prefiro trabalhar dessa forma. Qual o motivo de todos os grandes artistas sertanejos procurá-lo para a produção de seus discos? Um problema recorrente não só no sertanejo, mas em toda a música nacional, é a falta de mão de obra técnica qualificada. Muita gente acha que basta comprar um computador e uns softwares para se autodenominar produtor. Não é bem assim. Produzir um disco é algo sério. É uma função que ajuda o artista a se descobrir. Não é simplesmente saber gravar instrumentos, mixar e achar que acabou por aí. Por conta desse pensamento, tudo está muito bagunçado na música do país. Há muitos artistas bons que poderiam se destacar caso tivessem discos mais bem produzidos. Infelizmente, isso não acontece por conta da falta de mão de obra, o que faz com que poucos produtores dominem o mercado. Você é muito requisitado. É obrigado a recusar trabalhos? Existe grande demanda para produzir no VIP e eu inclusive já disse não para um mesmo artista mais de uma vez. Não é nada pessoal, apenas falta de tempo para fazer algo com qualidade. Toda semana acontece isso. Algumas pessoas não entendem. Porém, não quero fazer nada com pressa, porque o resultado pode ser catastrófico. Como acompanho o processo integral da produção dos discos, não tenho como assumir mais de 15 títulos por ano. E olha que esse número já é grande. É difícil trabalhar com tanta gente boa no mesmo ano e manter o nível. No exterior, os grandes produtores dificilmente fazem mais do que três discos no ano. Trabalho de domingo a domingo para atender bem todo mundo. Pensa em terceirizar serviços para assumir outros projetos? Ser centralizador é complicado, mas estou acostumado. Se não for assim, acho difícil dar resultado positivo. Não consigo produzir um disco e terceirizar o arranjo, por exemplo. Se eu for ficar do lado do cara falando o que ele deve fazer, prefiro fazer eu mesmo. Preferi criar meu próprio estúdio e centralizar tudo num só lugar. Claro que tenho funcionários me ajudando, mas fico envolvido em todas as etapas da produção. E os resultados que obtive no mercado demonstram que estou certo. Muita gente acha que eu deveria pegar um monte de discos para fazer, terceirizar o processo e só assinar os produtos, para lucrar rapidamente. Mas não curto. Isso desvirtua, transforma o produtor em marca e não em um profissional da produção. Pode dar certo por um tempo, mas não para a vida toda. Já esteve envolvido em projetos considerados fracassos? Sim, mas nem sempre por culpa da produção. Às vezes a divulgação não é boa. Enfim, há vários fatores que fazem um disco dar errado. Inclusive a produção. Mas isso é normal. Se eu soubesse com antecedência quem vai estourar, estaria muito mais rico. Na época do Curtição, do João Bosco & Vinicius, fiz tudo despretensiosamente e deu muito certo. Jamais imaginaria que aquele disco ajudaria a mudar a cara da música sertaneja. O que acha das rádios tocarem músicas de gente com talento questionável? As rádios se renderam a músicas ruins por causa da questão comercial. Mas o povo quer ouvir coisas boas. Não se compra tudo e nem se antecipa nada. Uma carreira não nasce da noite pro dia. É raro estourar logo no início da trajetória e se manter. Até porque estourar uma música é fácil, mas daqui a seis meses ninguém mais contrata o show se não houver continuidade do sucesso. Seu cachê é fixo ou aceita participar dos lucros do projeto? Prefiro não trabalhar com participação nos lucros porque isso cria distorções. Imagina se eu tivesse participação em um projeto que desse muito certo? Maravilha! Mas com certeza diriam que meu esforço foi menor no caso de determinado projeto dar errado. Muitas duplas surgiram e sumiram nos últimos anos. O mercado está fazendo uma peneira natural? A triagem já está acontencendo. Até 2011, tudo que saía dava certo. O povo enjoou desse monte de música parecida. E a virada de página chegou antes do que eu imaginava. A fase da facilidade acabou. O que acha da inserção de outros gêneros no sertanejo? O arrocha é ótimo, mas sempre evitei colocá-lo nos discos, porque era óbvio demais. Muitos artistas fizeram arrocha sem ter qualquer ligação com o gênero. Ficou forçado. E os artistas que lideram o mercado não caíram nessa. Ainda bem.Dá para prever o futuro da música sertaneja? Olha, nos últimos anos a música eletrônica dominou o mundo de uma forma que eu não previa. E isso não é ruim, porque a e-music hoje é muito pop e acessível. Acho que o sertanejo vai incorporar um pouco disso no futuro. O que muito artista jovem não entende é que não é necessário mudar o estilo radicalmente para estar conectado com as novidades. Basta colocar uma pitada dessas influências na música, criar diferenciações. Do contrário, perde-se a essência. Como é seu envolvimento com outros gêneros? Eu vim do gospel, já toquei em banda de rock e passei boa parte da carreira fazendo sertanejo por conta da demanda. Mas sou um produtor musical e não um produtor sertanejo. Estou produzindo os discos novos do Fabio Jr e do Jorge Ben Jor. Também vou fazer o CD novo do Fiuk. Minha meta é trabalhar bastante com rock e MPB. Mas não posso negar que tudo isso foi possível graças ao meu sucesso no sertanejo. Como seria o mercado de música nacional sem o sertanejo? Sinceramente, não sei como estaria a música brasileira. Os outros estilos não têm cena para se destacar. Nunca aconteceu isso antes. É uma situação muito ruim para outros gêneros, infelizmente. Você pretende expandir sua atuação para o mercado gringo? Tenho pensado muito no mercado internacional. Produzi uma música que une Maná e Jorge & Mateus. Também produzi a música do Carlos Vives com o Michel Teló. E, para finalizar, colaborei em duas músicas da Dulce Maria. Recentemente, fui para os EUA pesquisar imóveis para montar uma filial do VIP em Orlando ou em Miami. Minha ideia é trabalhar com os artistas brasileiros que moram lá. Já comprei uns equipamentos e o padrão será parecido com o da matriz. Você pensa em fazer um trabalho autoral? Penso em gravar um disco, sim. Tenho uns temas aí. Seria um disco de música eletrônica, pop. Tocaria tudo e chamaria uma galera para cantar. Tipo o trampo do David Guetta, só que com uma pegada mais nacional, com a sanfona misturada. Já comprei uns instrumentos para isso, uns teclados Moog e tudo mais. Estou pesquisando bastante para fazer algo especial. Qual artista nacional você acha que tem potencial para fazer sucesso no exterior? O Lucas Lucco pode ser vendido como um novo Ricky Martin. Produzi um disco dele com várias músicas diferentes, com essa pegada eletrônica pop e acho que tem tudo para dar certo aqui e lá fora.

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